segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Planejamento urbano, beleza da cidade e Uberaba



Toda e qualquer mudança no espaço urbano das cidades gera consequências, positivas ou não, aos seus moradores a curto, médio ou longo prazo. Nos últimos vinte anos, com uma expressiva produção industrial, agropecuária de ponta e um setor comercial e de serviços dinâmicos, Uberaba cresce consideravelmente. Observamos a paisagem mudar com novos bairros e o horizonte encher de uma dezena de edifícios. As ruas estreitas recebem fluxos crescentes de pessoas e veículos, exigindo intervenções constantes.
Essas mudanças, na forma urbana, quando não devidamente planejadas e dimensionadas geram graves problemas. Por exemplo, quando se optou em se construir as galerias das Avenidas Leopoldino de Oliveira, Guilherme Ferreira, Santos Dumont e Fidélis Reis, pensava-se em modernizar a cidade e melhorar o fluxo de veículos e resolver o problema das enchentes; bem, além da perda do romantismo dessas ruas com seus córregos, balaustradas e árvores,  os resultados práticos disso dispensam comentários.
Em recentes viagens às cidades do Rio de Janeiro e Porto Alegre, pude conhecer um pouco de suas áreas históricas. Notei que muitas ruas nesses lugares são calçadas com paralelepípedos. Em ambos os casos suportando grande fluxo de veículos, mesmo assim, impecavelmente conservadas e viáveis. O que leva a municipalidade local a asfaltar ruas já calçadas e ignorar outras que se encontram em terra é um mistério. De qualquer forma, as justificativas apresentadas para cobrir os paralelepípedos de Uberaba não são suficientes para convencer a todos. Um resultado imediato é percebido, o calçamento de pedra, que confere beleza à via, após seu encobrimento altera a percepção do local...
Há muito tenho lido sobre projetos para a área do Uberaba Tênis Clube - UTC. De fato lá é uma verdadeira cereja do bolo. Com amplo espaço numa região central da cidade, é cobiçada por muitos que visualizam mega projetos capazes de congestionar ainda mais o que já é caótico. No seu entorno há muitas instituições que demandam de mais vias e estacionamentos para o seu funcionamento. Sem espaço para os fluxos intensos, encontramos uma região saturada, altamente congestionada no horário comercial e vazia à noite e finais de semana. Esse vazio gera insegurança, os congestionamentos o estresse.  
Utilizo esse exemplo para mostrar que antes de qualquer intervenção, a municipalidade deve considerar quais possibilidades são melhores para o cidadão. Se pensarmos em sustentabilidade para tal área, por exemplo, demandaria se viabilizar um projeto que melhorasse os fluxos, oferecendo áreas de estacionamento ao mesmo tempo em que se preservasse a área verde e de lazer da comunidade. Lá há que levar em conta o patrimônio histórico presente no entorno, que deve ser integrado ao projeto. Uma possibilidade então seria se pensar em um parque central, que ofereça espaços de lazer e esporte, com estacionamentos subterrâneos, pista de caminhada e ciclovias, quadras, espaço para cultura, além de melhorias no acesso ao transporte público urbano facilitando a vida de quem estuda, trabalha e utiliza do hospital, da universidade, das escolas naquela área, trazendo qualidade de vida e vitalidade ao usuário e morador do entorno.
A cidade ultrapragmática que vem sendo construída está destruindo toda a beleza que um dia Uberaba teve, produzindo resultados controversos. Diversas cidades no Brasil e no mundo estão investindo em melhoria da qualidade urbana com projetos que ampliam a área verde, ofertam lazer, privilegiam a acessibilidade e mobilidade urbana e aferem beleza à cidade. É inadmissível, portanto, que Uberaba faça o contrário.  


Quando a violência nos atinge




Pior notícia não há que receber o comunicado da perda de um ente querido. Dor imensurável é saber que por algo estúpido e desprezível se foi uma vida, alterando brutalmente os destinos de pessoas e famílias. Em nossa resignação, toleramos a violência de governos corruptos que espoliam seu povo oferecendo a ele serviços públicos de baixa qualidade, eficiência e eficácia. O reflexo disso repercute numa população marginal de cultura e respeito pobres, vazios, medíocres. A vida parece deixar de ter significado e valor, honra e moral soam como palavras soltas e distantes. O respeito não mais existe...
Constatar a dureza da realidade nos traz profunda tristeza. Equilibro essa certeza pensando em como seria bom se pudéssemos andar a pé com os amigos à noite, conversando assuntos felizes sem se preocupar com nada; andar de bicicleta pela rua e saber que se está seguro; chegar a casa em mais um dia de trabalho, parar o carro sem pressa para abrir o portão, entrar e constatar que tudo estará no lugar; ir ao bar da esquina, seja para apanhar uma bebida ou um maço de cigarros ou, simplesmente, ver amigos e retornar a salvo pra casa...
Como construir esse mundo se a professora que educa, ensina e orienta foi morta? Os pais choram a perda dos seus filhos. O tempo parece parar, a vida entra em descompasso e o inacreditável acontece... a realidade se confirma.

Inúmeras indagações me rebatem o pensamento: poderemos manter nossos filhos a salvo? Estamos condenados a viver o infortúnio da violência e do medo? Não consigo ver respostas. Não faz sentido perder as pessoas que amamos numa violência que parece não ter fim. Maldita guerra branca sem tréguas e limites. Que tipo de sociedade humana nos tornamos? 


Em memória de minha amiga Natalya Dayrell Carvalho, que perdeu a vida precocemente durante um assalto na primavera de 2013.