quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

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Nos anos 90 o século XXI se apresentava como algo distante, inatingível. As previsões do fim do mundo, a expectativa de que as tecnologias transformassem utopias em realidade, enfim, havia todo um imaginário mitológico envolvendo tudo e todos.
A mudança veio... não como se esperava, o mundo ainda não acabou e as tecnologias continuam a evoluir a seu tempo. Contudo, ingressamos no novo milênio em plena revolução informacional em que tempo e espaço adquirem novos significados.
Tudo isso afeta a cada um de nós de modo singular. É pensando nessa influência que resolvi escrever sobre algumas passagens dessa nova década, em especial, o último ano.
Não se trata puramente de uma retrospectiva, mas de uma reflexão.

Era 20 anos e ele acreditava poder mudar o mundo, principalmente a si. Mais tarde entendeu que é preciso muito mais que vontade... Foi parte de um processo de autoconhecimento, muito feliz! Hoje faz parte do acervo das boas lembranças e de um tempo bom que não mais voltará.

O que seria de nós sem a instrução? A retomada dos estudos acadêmicos deu a ele uma nova profissão o que proporcionou outras perspectivas. Oito anos depois o mundo se mostrou a ele, como resultado dessa escolha.

Há muitos mares a serem navegados e muita história para ser vivida. A casa da progenitora é seu porto seguro, dali ele ganha o mundo.

O platonismo enfim o deixou. Ele de fato viveu uma daquelas histórias que marcam e dão sentido aos dias. Foram momentos doces e felizes que atravessaram calmarias e tempestades, sempre com cumplicidade, afeto e ternura. Ficou na memória e sempre o ficará...

Ter apenas a si. Esse momento de transição exige muito mais que entendimento. Esforço para superar a realidade e ainda se manter dócil. Essa fragilidade o expõe, mas também o faz lembrar de que é preciso se ter cuidado. Os sentimentos há muito são alegorizados como objetos contidos em caixas. Abrir a caixa é liberar processos interiores profundos...

Parece que a todo instante a vida o quer testar. Traçar planos e estabelecer metas soaram inúteis. Mais uma vez ele se deparou com o inusitado e uma escolha a fazer. Novamente ele optou em mudar. Que as boas perspectivas o levem as belas campinas com fontes ilimitadas e puras de sabedoria e paz.

A chuva que cai é um bom prenúncio do ano que vai se iniciar. Ela traz fecundidade ao solo, abastece os regatos que saciam a sede, amenizam o calor e nos faz pensar. Que seja vigoroso 2011, desafiador mas também maternal.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O que é o aquecimento global


O que é o aquecimento global

Existe muita confusão sobre as informações relacionadas ao clima em escala planetária, por parte da maioria das pessoas. É comum associarem todos os fenômenos terrestres ao aquecimento do planeta e formular, em senso comum, que qualquer ação humana resulta em imediata catástrofe. Bom, não é bem assim. Antes de tudo vamos esclarecer o que é o aquecimento global, que muitas vezes é confundido com o efeito estufa.
A vida em nosso planeta resulta da interação entre a Atmosfera – camada composta por gases que envolvem a Terra -, a Hidrosfera – que é a água em seus diversos estados presentes nos oceanos, mares, rios, lagos, geleiras, nuvens e subterrâneas -, a Litosfera – parte rochosa do planeta. A energia que move esse sistema provém do Sol, que em contato com a atmosfera é refletido para o espaço. Contudo, os vapores de água e gases como o gás carbônico e o metano retém uma pequena parte da radiação solar que é liberada na atmosfera na forma de calor. Isso faz com que a temperatura em nosso planeta seja adequada ao desenvolvimento da vida.
Nos últimos duzentos anos conhecemos avanços espantosos, impulsionados pela Revolução Industrial que, entretanto, passou a transformar a natureza a velocidades nunca antes vistas. Derrubada de florestas, emissão de gases poluentes provindos da indústria, dos automóveis, do lixo em decomposição alteraram consideravelmente a concentração dos gases estufa, causando um desequilíbrio no processo.
Como resultado dessa alteração, uma quantidade maior de calor do Sol fica retida aumentando a temperatura e promovendo um aquecimento da Terra, que por sua vez traz como conseqüências alterações nos sistemas climáticos.
Nos pólos, das geleiras, o aquecimento acelera o processo de degelo, fazendo com que icebergs sejam lançados nos oceanos, o que vem promovendo o aumento de seu nível. Resultado: em um futuro não muito distante há previsões de inundações em regiões costeiras e importantes cidades litorâneas e ilhas inteiras.
O regime de chuvas também poderá alterar, em várias partes do mundo, trazendo secas para regiões antes equilibradas e excesso de chuvas noutras. Isso causará grandes impactos na agricultura e produção de alimentos.
Ciclones e tornados deverão ficar mais comuns, inclusive em regiões que desconheciam esses fenômenos como o sul do Brasil.
A reprodução de algumas espécies animais sofrerá com essas mudanças enquanto outras, como os insetos poderão aumentar, o que pode resultar em mais doenças causadas por vetores da dengue, da malária, da febre amarela entre outras.
Terremotos, maremotos e vulcões não têm relação com o aquecimento, sendo estes fenômenos oriundos da atuação das forças internas da Terra. Assim como o buraco na camada de ozônio também não possui relação com o aquecimento.
Hoje, somos conscientes de que nossas ações estão a provocar estas alterações. É difícil dimensionar os impactos de tais mudanças na vida do homem. A única certeza que podemos ter é de que é preciso se preparar. A Terra que nós e nossos ancestrais conhecemos deverá mudar.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Jardinagem está na moda





É famosa a obsessão dos ingleses pela jardinagem. Essa arte é inclusive tida por muitos como uma instituição, por lá. É comum associarmos as paisagens ao redor de Londres a cabanas bucólicas cercadas por coloridos jardins. Sem falar nas floreiras cultivadas nas sacadas dos apartamentos, nas ruas e até nas paredes dos edifícios, numa modalidade chamada jardins verticais.
O costume da jardinagem inclusive chegou ao Brasil pelos ingleses, que depois da abertura dos portos à Inglaterra, passaram a habitar essas paragens. Compravam chácaras nos arredores da cidade do Rio de Janeiro e ali se dedicavam a essa terapia, hoje, recomendada até por médicos conhecedores de suas propriedades relaxantes e “desestressantes”.
Lembro-me dos jardins de minhas avós. Roseiras, arbustos e toda espécie de plantas, incluindo aquelas tidas como medicinais. Não possuíam planejamento, mas carregavam uma beleza singular, talvez por serem instintivos e cheios de cor.
Cultivar um jardim não é exclusivo desta ou daquela classe social, entretanto, nossa cultura não oferece muita importância a essa prática. Creio que herdamos dos portugueses certo comodismo e desleixo para com os espaços não construídos e áreas públicas. Enquanto os japoneses aproveitam cada centímetro de terra para cultivar vegetais, nós vemos o mato crescer e as pessoas descartarem lixo e todo o tipo de imundície naquilo que poderia ser uma acolhedora área verde.
Quantas e quantas residências habitadas são tomadas por ervas daninhas e algumas até por lixo, em áreas que se bem trabalhadas trariam beleza e aconchego. Para se ter um jardim bonito não é necessário dinheiro e sim disposição, para dedicar alguns minutos por dia na rega, no plantar, no cuidar.
Jardins nunca estiveram tão em moda, e ainda mais em tempos de aquecimento global. Onde só existe concreto e asfalto impermeabilizando o solo, tornam-se pontos para infiltração da água da chuva, o que reduz o impacto de enchentes, por exemplo. Absorvem menos calor do Sol, reduzindo os efeitos das ilhas de calor, também comum nos centros urbanos. Suas plantas auxiliam na absorção de gás carbônico além de reter alguns poluentes. Oferecem beleza à cidade e aconchego às residências. Diante de todos esses pontos a favor, por que não dedicar aquele pedaço de terra esquecido no quintal de casa algumas mudas de flores e árvores? Ou ainda, a área próxima ao córrego, ao terreno baldio do visinho, às áreas públicas esquecidas, mas presentes em nosso cotidiano. Em suma, hoje, cultivar um jardim não é apenas um hobbie. É um ato de civilidade.

Mercado de trabalho e novo ENEM



A educação no Brasil está passando por grandes mudanças. Os governantes se convenceram da importância de um ensino de qualidade para a melhoria da condição de vida da população. O país que nas décadas de 1980 e 1990 sofria de constantes crises e desenhava um horizonte sem perspectivas para os jovens é algo do passado. Vivemos atualmente uma revolução no mercado de trabalho. Existem milhares de vagas em diversos setores, mas, faltam pessoal qualificado para ocupá-las.
Para evitar um apagão de profissionais o governo vem investindo maciçamente na formação técnica e tecnológica. O Brasil é um dos países que obteve maior crescimento econômico em meio a crise econômica mundial. O jovem que conclui o ensino médio e sai com um diploma de um curso técnico tem 48% mais chances de emprego que um estudante que concluiu apenas o ensino médio, segundo pesquisa divulgada pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas e Instituto Votorantim.
O estudo mostrou que os salários daqueles que possuem um curso profissionalizante é até 13% superior. Em outra pesquisa, publicada também pela FGV, para cada ano de estudo o salário do brasileiro pode subir até 15%, o que evidencia a relação entre educação e ascensão social. Atualmente, cerca de 29 milhões de pessoas frequentam esses cursos. Além disso o ensino técnico tem a vantagem de oferecer aplicabilidade aos conteúdos ensinados, uma necessidade que hoje se faz presente inclusive nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, criado em 1998 para avaliar a qualidade do Ensino Médio. Hoje, ele é aplicado também como forma de seleção simplificada nos processos seletivos das universidades públicas federais.
As provas do Novo ENEM, divididas em duas etapas, mantém a exigência de compreensão dos enunciados e valoriza o lado lógico e de interpretação do aluno, em fórmulas e datas. O Enem visa avaliar a capacidade de raciocínio e as ideias do aluno e não a memoriazação pura e simples.
As questões possuem caráter transdiciplinar, ou seja, envolvem mais de uma disciplina do ensino médio para obtenção da resposta. Avaliam competências e habilidades que exigem do estudante a constituição de uma visão de mundo ampla e atualizada. Além de boa leitura, essencial na interpretação dos textos e enunciados. É preciso conhecer e analisar os fenômenos que estão a sua volta para poder interferir na realidade, exigência também cobrada dos profissionais atuantes no mercado de trabalho.
Diante disso é possível desenhar um perfil de estudante que, antes de mais nada, deve ter a consciência de que sua formação profissional se inicia nos seu ingresso na escola. É preciso ter conhecimentos básicos de interpretação, escrita e raciocínio lógico matemático, conteúdos ensinados nos primeiros anos da educação básica.
O Brasil do futuro exige que revolucionemos a educação não apenas em números. É urgente dar um salto qualitativo e possibilitar a formação de pessoas que acima de tudo “saibam fazer”, premissa implícita nas provas do ENEM.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Carta aos políticos eleitos





Eu tinha mais de vinte anos quando fui compreender os mecanismos de um processo eleitoral. Era criança nos tempos da abertura democrática e a única coisa que sabia era que os adultos podiam votar e ser votados. Via os gupos partidários polarizados em dois eixos: os que estavam no poder e os que queriam entrar. As pessoas comentavam sobre ser de direita ou da esquerda. Levei muitos anos para descobrir o que representava tudo isso. Alheio a minha compreensão vivia no Brasil das desigualdades sociais, das injustiças e aberrações.
Hoje, quando entramos no período eleitoral tenho vontade de sentar cara a cara com os candidatos e questioná-lo sobre suas pretensões, assim como os pais fazem com os pretensos genros. Nunca fiz isso, permanecendo passivo a tudo, me contentando apenas com a imagem vendida e distribuída dias a fio na Tv e nos ”outdoors”.
Tenho vontade de dizer que para ser político é preciso amar muito ao outro. Assim como queremos o melhor para nossa família e pessoas que gostamos, um político deve almejar representar a todos, independente das concepções políticas, ideológicas ou de gênero.
O bom político deve ter desenvolvido a empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro, para se ver madrugando, preparando a marmita, tomando o coletivo lotado, dando duro no trabalho para no final do mês garantir o sustento da família e sobreviver como pode. Ou ainda, se ver como muitas mães quando procuram atendimento nos hospitais públicos para seus filhos enfermos e sofrem o indizível pelo descaso e ineficiência do sistema. É preciso buscar soluções para esses dramas.
Há uns anos atrás, buracos em uma rodovia foram a causa da morte de onze estudantes da zona rural que iam para a escola, em um município de Minas. A comoção foi geral e sempre em meu pensamento eu refletia quem eram os responsáveis por aquilo. Não se tratava de uma fatalidade, mas de um crime. Impostos foram pagos, departamentos e instituições existiam para cuidar das estradas e pessoas morrem pela falta de manutenção?
Quando vem a tona notícias de políticos que desviam recursos, vejo na mão deles o sangue de muitos inocentes que perdem a vida pela omissão do Estado. Eles são tão criminosos quanto um assassino culpado de latrocínio. A sabedoria oriental ensina que para cada ação existe uma reação, bem parecido com aquelas leis de causa efeito que estudamos em física. Que os políticos corruptos pensem no mal que podem causar às pessoas.
Seríamos vítimas da cobiça, do egoísmo, do individualismo daqueles que não pensam coletivamente e que representam interesses escusos e corporativos? Se os governantes são o reflexo do povo, está fácil mudar... A partir de minhas ações buscando ser justo, honesto, ético eu faço a diferença. Isso estendido a todos os brasileiros transformaria radicalmente o país.
Que nossos representantes façam valer nosso voto, conquistem nosso respeito e amem nosso povo.
Políticos, vocês não nos fazem favores. Sua obrigação é servir ao povo que os elegeu!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Consciência histórica



O dia do patrimônio histórico, comemorado em 17 de agosto, foi lembrado aqui em Paracatu com o plantio da muda de uma paineira, no Largo de Santana, em substituição à imponente árvore que ali existia. Mas, por que se comemorar essa data? Ou ainda, por que se preservar as antigas construções de Paracatu?
Aristóteles já dizia que “é nas cidades que o homem pode realizar a virtude inscrita em sua essência, pois ele é um animal político”. Egípcios, persas, gregos, romanos, incas, maias, entre outros, desenvolveram suas sociedades nas cidades, o campo mais frutífero para a ação política.
Além da importância artística, cultural e social, o meio urbano é o retrato mais fiel da história de seu povo. A dinâmica do espaço narra ascensões e ruínas, progressos e anacronismos, complexidade e simplicidade. Cada parte da urbe é fruto da ação de vários personagens que se relacionam para vencer o meio, produzem cultura e garantem a sobrevivência a espécie.
Do Brasil de 1500 para o país em desenvolvimento do século XXI, a aldeia, a vila, a cidade, representam o marco concreto de como se processou a nossa história. As ruas e as construções corporificam uma espécie de padrão temporal que liga o instante transcorrido, o passado; ao minuto a seguir, o futuro: aquilo que foi e o que está por vir. Reside aí a identidade, alicerce da construção de nossa autonomia.
O geógrafo Yi-Fu Tuan diz que “o entusiasmo pela preservação nasce da necessidade de ter objetos tangíveis nos quais se possa apoiar o sentimento de identidade”. Além do mais, as antigas construções imprimem beleza à paisagem e auxiliam na manutenção da diversidade. Lojas, escritórios, consultórios, clínicas, repartições públicas, enfim, diversos segmentos ocupam imóveis antigos de considerável valor histórico. A dinâmica da cidade, muitas vezes, exige que o espaço seja repensado. Ações de conservação e de preservação mostram que o passado e o futuro podem conviver em harmonia.
A cidade é arte. “Arte e arquitetura buscam visibilidade. São tentativas de dar forma sensível aos estados de espírito, sentimentos e ritmos da vida diária. A maioria dos lugares não são criações deliberadas, pois são construídas para satisfazer as necessidades práticas”. A cidade concebida como arte, segundo o arquiteto Aldo Rossi é um artefato pelo qual “podemos observar e descrever ou procurar compreender seus valores estruturais”. As formas e tipologias arquitetônicas “podem ser lidas e decifradas, como se lê e se decifra um texto”, pois o “desenho das ruas e das casas, das praças e dos templos, além de conter a experiência daqueles que os construíram, denota o seu mundo”. Daí a necessidade de se entender tudo o que se produz e se cria em um determinado lugar.
Preservar nossas memórias, nossos bens materiais e imateriais, é um recurso para a construção da própria identidade. Em um mundo cada vez mais padronizado, decorrente da globalização, a peculiaridade dos lugares torna-se a maior riqueza que uma comunidade possa possuir. Portanto, valorize, conserve e mantenha vivo seu patrimônio, seja ele material ou não. Nossa descendência será imensamente grata por isso.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

EM TEMPOS DE SAUDADE


Numa visita a uma antiga fazenda fiquei admirado com a imponente sede que ali existe. Construção centenária, de esteio e pau-a-pique, bem típica dos tempos da colônia. Porão abaixo do assoalho de taboas espessas de madeira, certamente o árido dormitório dos escravos, que contrasta com os cômodos amplos e ventilados da parte superior. Entretanto, um espaço chamou-me a atenção: a abundância de janelas é exceção em um cômodo. Curioso, indaguei ao dono da casa que logo se prontificou a me explicar. Disse se tratar do “quarto das moças donzelas”. Uma alcova sem janelas. Isso, porque em tempos de casamento arranjado, os jovens apaixonados, não prometidos um ao outro, fugiam para se casar escondido, me explicou. Isso deixou-me pensando em muitas coisas, e uma delas foi sobre a força que tem uma paixão.
Ela cega, emudece, tonteia. Quantas e quantas vezes pessoas apaixonadas, guiadas apenas pelo instinto, cometeram loucuras que depois pudessem se arrepender. Imaginei que para se mudar a arquitetura, como o fizeram naquele tempo, deveria ser comum fugas entre mancebos e donzelas. E aqueles apaixonados que não escapavam o que sentiam?
Quiçá saudade, palavra exclusiva da língua portuguesa. Ela anuncia esse sentimento de falta que experimentamos quando distantes no tempo e no espaço daqueles que estimamos, ou de um momento passado.
A saudade dói, mas se a percebemos é sinal de que temos dentro de nós sentimentos. Quantas vezes sofremos de saudade das pessoas queridas que se foram dessa vida, ou, daquelas que vivem longe.
É engraçado como em momentos de despedida, vem a saudade antes mesmo de nos afastar. Talvez porque sabemos que os instantes juntos estão no seu tempo derradeiro e isso antecipa a falta.
A saudade ilude, mas também desperta ao nos fazer perceber que existem situações que não mais voltarão a acontecer. Ao acordar nos preparamos para o novo, e assim, nos apaixonamos novamente, fazemos novas amizades, vivemos...
Não ser mais adolescente mostra que o mundo pode ser bem mais simples. Não existem verdades absolutas nem dramas infinitos ou amores eternos. A vida passa e com ela os desejos e volições. Mas a sabedoria, essa sim, só aumenta.
Como uma velha casa que acumula história é o registro no espaço de um tempo que não volta mais, guardamos a saudade em nossa memória, seja para nos fazer sorrir ou chorar...

domingo, 15 de agosto de 2010

A VIDA ENSINA




Em um dia desses comecei a pensar nas pessoas que passam pela nossa vida. A impermanência das relações, a variedade de sentimentos que são despertados, cultivados ou esquecidos a partir da convivência ou ausência do outro.
Vieram a mente lembranças que me trouxeram saudade e outras pesar, por deixar de ter feito coisas que hoje não são mais possíveis realizar. Lembrei-me de uma tia que morava na fazenda e era o carinho e atenção materializados em pessoa. Nos recebia em sua casa com grande alegria e entusiasmo. Fazia de tudo para nos deixar confortáveis e entretidos. À noite, preparava um lanche com biscoitos e pães de queijo, que esquentávamos no rabo do fogão à lenha contando prosas e causos seguidos de longas risadas. Quando ela adoeceu e foi para o hospital, aguardei seu retorno, não fui vê-la internada. Mas esse encontro não ocorreu e hoje sinto muito por passar esse momento distante. Busco, a partir de então, sempre que posso me fazer presente ante as pessoas importantes do meu meio, principalmente quando elas mais precisam.
Outro fato que se sucedeu foi com meu pai. Um homem extraordinário, íntegro, que me ensinou a moral, a cultivar a mística e a ser gentil, mas que tinha um problema: oscilava entre a razão e a insanidade. Foi uma experiência marcante os 12 anos em que estivemos juntos, enquanto uma família completa. Transcendendo os problemas cotidianos fomos muito felizes. Não tive tempo de dizer quanto o amava... Ele tinha sonhos simples que não se realizaram nessa vida. Hoje, faço o máximo de esforço em ir atrás do que quero, por mais difícil que seja, pois considero frustrante não se fazer o que se sonha.
Outras pessoas marcantes são os amigos. Há momentos na vida que eles fazem parte da nossa rotina a ponto de pensarmos que nunca vamos nos separar. Mas um dia o afastamento acontece e os caminhos tomam rumos diferentes. Guardo aqui dentro um lugar especial para quando estiverem próximos. Os compromissos e as próprias escolhas nos deixam por vezes distantes daqueles que gostamos, mas o que é verdadeiro não se perde... Aprendi que como em um jardim, precisamos despender atenção, que seja em um simples gesto como enviar um cartão de natal, ou um postal ao amigo que está longe - e aos que estão próximos também.
Agora, de todos aqueles que encontramos pela vida, certamente os que deixam as mais intensas marcas são os que nos despertam a paixão. Sorrateira e inesperada nos arrebate de repente. Faz as cores realçar, os sons se intensificarem. Deixam-nos em torpor. Nesse estado vivemos o tudo em poucos instantes. Há paixões que duram uma vida, transformam-se em amor, edificam famílias. Outras são transitórias, fugazes, sofridas. Um tipo em especial mais me marca: aquela paixão que dura pouco, mas que de tão intensa vale por uma vida inteira. Ela tem início, meio e fim definidos; fica arquivada na memória; arranca um sorriso. É acompanhada de um suspiro quando lembrada, pois deixa saudade. Esse encontro provavelmente não voltará a acontecer. Talvez nem precise... Aprendi com isso o quanto vale a magia de se viver o instante, como “se não houvesse o amanhã”. Sem cobranças, nem expectativas.
Quando pensei nessas coisas, soube então que cada pessoa que encontramos em nossa vida nos ensina e nos desperta para um mundo repleto de possibilidades e de novas experiências. Elas vão fazer parte de nossa lembrança, se ajuntar aos nossos sonhos e nos fazer sentir humanos. Podemos nos tornar melhores a partir disso ao buscar fazer o outro feliz. Afinal, que sentido teria esse fantástico e grandioso encontro que é a vida?

Semana do Meio Ambiente: dias de reflexão


“Que pode fazer um só indivíduo, de efeito na história: pode realizar alguma coisa importante com sua maneira de viver? Pode indubitavelmente. Vós e eu não podemos, é verdade, sustar as guerras imediatas ou criar uma instantânea compreensão entre as nações; mas pelo menos podemos suscitar no mundo de nossas relações diárias, uma básica e efetiva transformação”.
Krishnamurti, Educação e significado da vida, p.53

Houve um tempo em que os homens que aqui habitavam encontravam-se em perfeito equilíbrio com a natureza. Eram parte integrante do meio e comungavam, com Mãe tão generosa, grande abundância de víveres e sorte de abrigo seguro. O sagrado e o lúdico estavam presentes em todos os elementos do espaço. Sua devoção era ofertada ao grandioso astro que aquece os dias, a serena luz que ilumina as noites, a água pura que cai do firmamento e jorra do chão o fazendo fecundo.
Mas um dia, espaço e tempo foram revolucionados. Esta terra foi varrida de tudo aquilo que um dia foi... A natureza não mais nos atendia e precisávamos transformá-la em nossa serva. Precisávamos dominá-la, subjugá-la, visto nossa eminente “superioridade”... A mente humana tornou-se tão sofisticada e ao mesmo tempo tão complexa que possivelmente se perdeu. Comporta agora frustrações, que em síntese questionam o sentido que nossa existência tomou, diante uma realidade essencialmente assustadora, como a que se desenha dia após dia. Semelhante a peças de uma monstruosa máquina, assumimos papéis vazios em uma sociedade que se auto-intitula moderna e capitalista. A luta por alimento e abrigo foi potencializada e nossas necessidades precisaram se expandir em quantidade e qualidade. Devotamos nossa vida ao capital.
A Natureza nos dá a possibilidade de produzir, vender, crescer, gerar riqueza, renda, emprego, etc. Mas para isso escolhemos escravizá-la. Pagamos um alto preço; em cem mil anos de humanidade, nunca se explorou tanto os recursos naturais como se tem feito nos últimos duzentos anos. Onde está a parada final desta engripada máquina?
A cidade em que vivemos representa apenas um ponto matemático dentro de um sistema autodestrutivo. Uma nova revolução, capaz de transformar as estruturas e conduzir a humanidade rumo à outra via nem chega a constituir-se utopia, pois não conseguimos vislumbrar outras possibilidades. Nossa limitação nos condena a um futuro incerto. É prudente cultivar a esperança e refletir nas palavras de Krishnamurti. Dentro de nossas possibilidades, instituir pequenas transformações que possam em conjunto, significar a mudança nos costumes e hábitos, voltados à manutenção da vida.
No Brasil, possuímos uma legislação ambiental avançada, que precisa ser cumprida em sua íntegra. Fala-se muito em desenvolvimento auto-sustentável, a cada dia novas técnicas e práticas conservacionistas surgem com o intuito de se reduzir os impactos causados pelas ações antrópicas*. Estamos mais do que na hora de arregaçar as mangas e aplicar tantos conhecimentos acumulados. O crescimento urbano descontrolado, a destruição e poluição dos mananciais, o lixo, a monocultura, a mineração, o desmatamento são realidades cada vez mais presentes em Paracatu, no nosso pequeno universo de relações. Devemos lutar para fazer a diferença!

* Toda modificação do ambiente causada pela ação do homem.

P.S. : No dia 5 de junho comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. É neste período que se configura a Semana do Meio Ambiente.

Em busca da umidade perdida


Sol ou chuva? Nunca estamos satisfeitos com o tempo. Bom seria se houvesse um dispositivo, de preferência móvel, para podermos manipular a atmosfera bem ao estilo “o todo poderoso”.
Se chove muito começamos a ver bolor em todo o canto. Mas, semanas sem ela nos faz sentir como lagartos no deserto, ressequidos. De fato, nosso clima tropical continental nos reserva para esses meses de inverno pouca ou quase nenhuma gota de chuva. É neste período também que a umidade relativa do ar atinge níveis extremamente baixos. A mãozinha do homem ajuda a piorar a situação, basta lembrar-se da emissão de poluentes pelos carros e fábricas, derrubada de árvores e queimadas, que deterioram a qualidade do ar.
A baixa umidade causa alterações em nosso organismo. Olhos, narinas e pele ressecam mais rapidamente. Desconfortos como náuseas e dores de cabeça também são freqüentes, além de maior incidência de doenças respiratórias e problemas cardiovasculares. É importante se manter hidratado ingerindo muito líquido (de preferência água) e evitar atividades físicas ao ar livre nos horários da tarde, para minimizar esses efeitos.
As tão faladas alterações climáticas, decorrentes do desequilíbrio no aquecimento natural do planeta, poderão prolongar os períodos de estiagem, ou torná-los mais intensos. É preciso que passemos, dentro de nossa possibilidade, a implantar pequenas mudanças em nosso modo de vida para atenuar seus efeitos.
Aqui em Paracatu uma importante medida seria deixar de colocar fogo nos terrenos baldios. A queimada, além de empobrecer o solo, polui o ar, emite fuligem que suja a cidade e ajuda a deteriorar a umidade. Ela prejudica a nossa saúde e ainda pode causar incêndios. Entretanto, apresentamos grande resistência em abandonar velhos hábitos prejudiciais.
Aumentar a área verde com o plantio de gramas e árvores reduz a insolação, gera-se sombra, aumenta a umidade do ar e, de quebra, melhora a drenagem e absorção pelo solo da água das chuvas, minimizando até as enchentes. Pode ser feito nos quintais, nas calçadas e onde mais couber. Também é vital se criar novos espaços como praças e parques para melhorar o micro-clima urbano, consecutivamente, a qualidade de vida dos citadinos.
“Pensar globalmente e agir localmente” é o lema do século XXI. Nas próximas décadas iremos conviver com situações adversas em decorrência de um clima menos previsível. Árvores levam tempo para crescer e tempo é algo que não temos em abundância.
As minhas árvores estão sendo plantadas, cadê a sua?

sábado, 14 de agosto de 2010

A grande jogada de 2014


A Copa na África terminou. Como primeiro país do continente a sediar um mundial a África do Sul surpreendeu com seus estádios monumentais e a boa receptividade dos anfitriões. Os bilhões de dólares investidos para melhor receber os turistas, de quebra estão a beneficiar a população do país que obteve a melhoria de alguns de seus equipamentos públicos. E para 2014 no Brasil, o que podemos esperar?
Não são apenas estádios gigantescos de arquitetura pós-moderna que fazem um evento deste porte. Há que se pensar em um conjunto de melhorias que foram empenhadas em nossa candidatura para sediar o mundial. Afinal de contas, a copa não é apenas para os brasileiros. Receberemos turistas de todo o mundo e nos tornaremos uma verdadeira vitrine, numa rara oportunidade de consolidar o país como um importante destino turístico.
Talvez aí encontra-se o maior legado de uma copa. Para se ter uma idéia, segundo a Organização Mundial de Turismo, o Brasil ocupa a 36° posição no ranking de destinos turísticos, recebendo pouco mais de 5 milhões de visitantes. Só os Estados Unidos tem receitas equivalentes a mais de 110 bilhões de dólares, tendo um fluxo de turistas dez vezes maior que o verificado em território nacional.
Sim, possuímos belezas naturais únicas, e um povo rico em manifestações culturais. Entre os viajantes estrangeiros a hospitalidade brasileira é uma qualidade intrínseca e inerente ao seu povo. O desejo de estabelecer intimidade seria, na visão de Sérgio Buarque de Holanda, uma das formas como se expressariam a chamada - cordialidade brasileira. Entretanto, somos amadores em se tratando de indústria do turismo.
A preocupação do governo em ampliar a infra-estrutura nos transportes não é vã. Tantos os aeroportos quanto a sistema de transporte urbano nas grandes cidades são ineficientes. O quadro estabelecido hoje é resultado de políticas que beneficiaram muito as distribuidoras de combustíveis e montadoras de carros, em detrimento a investimentos nos transportes públicos e de massa. Assistimos ao desmonte de nossa antiga rede ferroviária e ao descaso das autoridades para com nossas estradas, sobrecarregadas de caminhões, focos de acidentes.
Temos ainda problemas como a falta de segurança pública. Fomos tomados por uma onda de violência, em que assaltos nas ruas tornaram-se freqüentes, banalizando a vida humana por um simples relógio ou par de calçado. Soma-se o tráfico de entorpecentes que domina territórios onde o Estado não chega, imperando uma terceira ordem.
Há falta de moradia digna, sem infra-estrutura de água tratada, esgoto e asfalto para grande parte da população, que é vítima também da especulação imobiliária. Esses problemas são imensos desafios para os governos e que não são solucionáveis em apenas quatro anos.
Mas é preciso fazer algo. Muito mais que transformações físicas, sediar um mundial desperta um sentimento singular: de querer mostrar o melhor. E é pensando nesse melhor, que devemos vislumbrar mudanças não apenas nas cidades sedes dos jogos. Teremos uma rara oportunidade de alavancar o turismo nacional. E Paracatu pode se beneficiar disso.
Estamos a apenas 200 quilômetros de Brasília, uma das capitais dos jogos. Os turistas virão apreciar o futebol, mas também conhecer a região. E certamente, o noroeste mineiro guarda belas paisagens, molduradas pelas chapadas e serras de flora e fauna singulares. Inúmeras cachoeiras, uma excelente culinária, além de rico patrimônio arquitetônico e cultural. Isso nos faz pensar no quanto precisamos trabalhar para receber esses turistas. Daí começamos a pensar que cidade queremos mostrar?
Se a copa fosse hoje, o turista que aqui viesse se depararia uma cidade envolta a fumaça e fuligem das queimadas nos terrenos baldios. Ruas empoeiradas pela falta de passeios, que também são um transtorno para os pedestres. Pontes estreitas e trânsito similar ao de cidade grande. Sem dizer que as belezas naturais, ao redor, não encontram logística e infra-estrutura favoráveis.
Há muito a ser feito. Mas não faltam bons exemplos de cidades pequenas que se consolidaram como centros turísticos. No Estado de Goiás, por exemplo, tem-se Pirinópolis e Alto Paraíso, que em comum compartilham as belezas do cerrado, recebem pessoas do Brasil e do exterior.
O governo federal, por meio da EMBRATUR, está desenvolvendo várias ações de qualificação, promoção, planejamento e gestão voltadas para a copa e também para as olimpíadas de 2016. A chance está a nossa frente, não podemos deixar passar. Arregaçar as mangas e mãos a obra é nosso lema, afinal, 2014 está chegando.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ser um pouco criança


As férias chegaram. Maravilha! Aquela praia que ficou em meu pensamento nos últimos meses ia se materializar. Pensava: “estamos no inverno, mas e daí? Mineiro não liga para detalhes de frio; e depois, é época de seca. É quase certeza de sol todo dia...”
Seria “se” um fenômeno atípico não trouxesse uma massa de ar polar, que além de frio causou chuva que não acabava mais no litoral sul e sudeste. Os dias ensolarados na praia se traduziram em horas e horas no apartamento aguardando o sol raiar – ele não veio.
Recorrendo a um dos programas típicos para dias chuvosos liguei a velha e tediosa TV. Realmente a programação de férias é para quem não tem opção, só a chuva para fazer ver aquilo. Mas o pior estava por vir: em todos os canais, durante quase todo o tempo só se ouvia noticias de um futuro ex-goleiro, seus comparsas e um crime típico de filme de terror. Aquilo foi demais. O pior que para onde se apertava no controle remoto, só se via aquilo. Recusei-me a ser mais um no Ibope dessa notícia.
Foi então que propus um desafio: pensar somente em coisas boas (é claro, com a TV desligada), e comecei a brincadeira. Quantas passagens nem lembrava mais... Das travessuras de menino aos anos de escola. Com certeza, a simplicidade é amiga da felicidade.
Lembrei-me de um tempo em que as crianças podiam ficar nas ruas sem preocupar-se com grandes perigos. A vizinhança toda se interagia e os meninos corriam para brincar de pique, se esconder atrás do poste e ainda achar que eram invisíveis. Subia nas árvores, pegava frutas no quintal do outro e dava risada quando a dona Maria apontava com a vassoura.
Naquela mesma época brincava de bete, queimada e rolimã. Fazíamos nossos tacos de cabos de vassouras; a queimada era na rua mesmo, e o rolimã uma aventura: descer a ladeira, manter o equilíbrio e evitar esfolar-se.
Adorava assistir desenho animado, passear de bicicleta na praça, juntar garrafas e metal para vendê-los no ferro velho. De posse de uns trocados corria na venda para comprar bala chita, caramelo ou chiclete. Essas “bobeiras”, como diria minha mãe, não eram tão fartas como hoje. Acho que fazíamos de seu consumo uma solenidade: maçã era raridade, iogurte um luxo de uma vez ao mês. Gelatina, cachorro quente e refrigerante destinados para ocasiões como almoço de domingo ou festa de aniversário.
Reconheço que fui uma criança feliz e que mesmo sem possuir vídeo game, bicicleta da moda ou chuteira, contei com o amor e a presença da minha família e isso é tudo. Hoje, por diversas vezes me esqueço das origens e me pego encabulado por não possuir isso ou aquilo, sendo que o mais importante não está no ter.
Apesar de não curtir o sol na praia, pois ele não veio, visitar a família, sair com os amigos e viajar fizeram dessas férias especiais. Estar rodeado das pessoas que se ama e compartilhar gargalhadas, prosas e causos; levar um fora da gata da festa, mas roubar um beijo e ser correspondido de outra; trocar olhares; abraçar aquele que não se via há muito tempo; sonhar... Desligar a TV me fez ligar outra percepção. Precisamos de muito pouco para estar em paz e sorrir.