segunda-feira, 30 de julho de 2012

Música na escola


               A inclusão do ensino de música como conteúdo do componente curricular de Artes, na Educação Básica das escolas brasileiras, passou a ser obrigatória a partir da Lei nº 11.769, sancionada em 18 de agosto de 2008, que estabeleceu um prazo de três anos para o seu cumprimento. Já avançamos além do tempo definido e pouco se ouve a respeito desse assunto.


Acredito que o ensino de música nas escolas é importante, mas a forma como esse trabalho vai se desenvolver é questão primordial para que a lei seja cumprida. Ela representa um avanço, mas pode tornar-se inviável sem o tratamento adequado.

Inúmeras possibilidades surgem a partir desse novo conteúdo, que deveria ser acompanhado do ensino de outros como artes visuais, cênicas, circenses. A música está presente na vida de todos, mas poucos são os que a (re)produzem. Escolas específicas e com competência para ensinar ainda são insuficientes, o que também repercute na carência de professores especializados. Em termos físicos, os prédios escolares não apresentam estrutura adequada nem mesmo para o básico. Essas limitações levam-nos a crer que muitas escolas, de Educação Básica, não possuem condições para ensinar a (re)produzir música.

Uma alternativa é considerar outras possibilidades e abordar o assunto partindo de temas como a música para o relaxamento, para tratamento de enfermidades, como expressão do imaginário, do inconsciente, do poder, das paixões; os diferentes estilos, tipos, variações; a música como elemento místico, como agente aglutinador de grupos, sons, timbre, volume, altura... Um conteúdo não para se classificar ou memorizar, mas vivenciá-lo e dele se explorar a percepção, os sentidos e por que não a dança.

O conteúdo de música poderia esclarecer o aluno acerca dos sentimentos que os sons despertam transcendendo os simples conceitos de bom ou ruim; a importância do silêncio e do respeito ao outro. A educação musical deve mostrar que a experiência do ouvir é uma vivência particular, mas que também se torna coletiva em uma festa, em um show ou numa reunião com os amigos. Outro dia, assisti a apresentação em espaço aberto de uma orquestra sinfônica em uma cidade próxima. Enquanto tocavam, um sujeito, desses “play boys”, passou diversas vezes ao redor da praça, em seu carro equipado e som nas alturas, num “pancadão” bem estridente, atrapalhando os músicos. Foi algo triste e até vergonhoso de presenciar. Demonstração explícita de desrespeito e falta de educação, tônica cada vez mais comum em nossa sociedade.

Em um trabalho que fiz com alunos do Ensino Fundamental, em escolas da periferia, percebi a grande limitação e resistência que algumas crianças apresentaram ao ouvir estilos musicais distintos do seu cotidiano. Creio ser resultado do desconhecimento e dificuldade de acesso. Percebo que tal limitação abre caminho para a ignorância, a intolerância e até mesmo a violência.

Mostrar a existência de outros ritmos, experimentá-los, senti-los é uma alternativa para melhorar não somente a qualidade da educação, mas o acesso à cultura e ao lazer. Espero que essa lei possa contribuir para que as escolas repensem algumas práticas. Longo é o caminho a ser percorrido, melhor será se for acompanhado de boas notas...

Publicado Jornal da Manhã em 27/07/2012
Acesso: http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,65979