domingo, 15 de agosto de 2010

A VIDA ENSINA




Em um dia desses comecei a pensar nas pessoas que passam pela nossa vida. A impermanência das relações, a variedade de sentimentos que são despertados, cultivados ou esquecidos a partir da convivência ou ausência do outro.
Vieram a mente lembranças que me trouxeram saudade e outras pesar, por deixar de ter feito coisas que hoje não são mais possíveis realizar. Lembrei-me de uma tia que morava na fazenda e era o carinho e atenção materializados em pessoa. Nos recebia em sua casa com grande alegria e entusiasmo. Fazia de tudo para nos deixar confortáveis e entretidos. À noite, preparava um lanche com biscoitos e pães de queijo, que esquentávamos no rabo do fogão à lenha contando prosas e causos seguidos de longas risadas. Quando ela adoeceu e foi para o hospital, aguardei seu retorno, não fui vê-la internada. Mas esse encontro não ocorreu e hoje sinto muito por passar esse momento distante. Busco, a partir de então, sempre que posso me fazer presente ante as pessoas importantes do meu meio, principalmente quando elas mais precisam.
Outro fato que se sucedeu foi com meu pai. Um homem extraordinário, íntegro, que me ensinou a moral, a cultivar a mística e a ser gentil, mas que tinha um problema: oscilava entre a razão e a insanidade. Foi uma experiência marcante os 12 anos em que estivemos juntos, enquanto uma família completa. Transcendendo os problemas cotidianos fomos muito felizes. Não tive tempo de dizer quanto o amava... Ele tinha sonhos simples que não se realizaram nessa vida. Hoje, faço o máximo de esforço em ir atrás do que quero, por mais difícil que seja, pois considero frustrante não se fazer o que se sonha.
Outras pessoas marcantes são os amigos. Há momentos na vida que eles fazem parte da nossa rotina a ponto de pensarmos que nunca vamos nos separar. Mas um dia o afastamento acontece e os caminhos tomam rumos diferentes. Guardo aqui dentro um lugar especial para quando estiverem próximos. Os compromissos e as próprias escolhas nos deixam por vezes distantes daqueles que gostamos, mas o que é verdadeiro não se perde... Aprendi que como em um jardim, precisamos despender atenção, que seja em um simples gesto como enviar um cartão de natal, ou um postal ao amigo que está longe - e aos que estão próximos também.
Agora, de todos aqueles que encontramos pela vida, certamente os que deixam as mais intensas marcas são os que nos despertam a paixão. Sorrateira e inesperada nos arrebate de repente. Faz as cores realçar, os sons se intensificarem. Deixam-nos em torpor. Nesse estado vivemos o tudo em poucos instantes. Há paixões que duram uma vida, transformam-se em amor, edificam famílias. Outras são transitórias, fugazes, sofridas. Um tipo em especial mais me marca: aquela paixão que dura pouco, mas que de tão intensa vale por uma vida inteira. Ela tem início, meio e fim definidos; fica arquivada na memória; arranca um sorriso. É acompanhada de um suspiro quando lembrada, pois deixa saudade. Esse encontro provavelmente não voltará a acontecer. Talvez nem precise... Aprendi com isso o quanto vale a magia de se viver o instante, como “se não houvesse o amanhã”. Sem cobranças, nem expectativas.
Quando pensei nessas coisas, soube então que cada pessoa que encontramos em nossa vida nos ensina e nos desperta para um mundo repleto de possibilidades e de novas experiências. Elas vão fazer parte de nossa lembrança, se ajuntar aos nossos sonhos e nos fazer sentir humanos. Podemos nos tornar melhores a partir disso ao buscar fazer o outro feliz. Afinal, que sentido teria esse fantástico e grandioso encontro que é a vida?

Semana do Meio Ambiente: dias de reflexão


“Que pode fazer um só indivíduo, de efeito na história: pode realizar alguma coisa importante com sua maneira de viver? Pode indubitavelmente. Vós e eu não podemos, é verdade, sustar as guerras imediatas ou criar uma instantânea compreensão entre as nações; mas pelo menos podemos suscitar no mundo de nossas relações diárias, uma básica e efetiva transformação”.
Krishnamurti, Educação e significado da vida, p.53

Houve um tempo em que os homens que aqui habitavam encontravam-se em perfeito equilíbrio com a natureza. Eram parte integrante do meio e comungavam, com Mãe tão generosa, grande abundância de víveres e sorte de abrigo seguro. O sagrado e o lúdico estavam presentes em todos os elementos do espaço. Sua devoção era ofertada ao grandioso astro que aquece os dias, a serena luz que ilumina as noites, a água pura que cai do firmamento e jorra do chão o fazendo fecundo.
Mas um dia, espaço e tempo foram revolucionados. Esta terra foi varrida de tudo aquilo que um dia foi... A natureza não mais nos atendia e precisávamos transformá-la em nossa serva. Precisávamos dominá-la, subjugá-la, visto nossa eminente “superioridade”... A mente humana tornou-se tão sofisticada e ao mesmo tempo tão complexa que possivelmente se perdeu. Comporta agora frustrações, que em síntese questionam o sentido que nossa existência tomou, diante uma realidade essencialmente assustadora, como a que se desenha dia após dia. Semelhante a peças de uma monstruosa máquina, assumimos papéis vazios em uma sociedade que se auto-intitula moderna e capitalista. A luta por alimento e abrigo foi potencializada e nossas necessidades precisaram se expandir em quantidade e qualidade. Devotamos nossa vida ao capital.
A Natureza nos dá a possibilidade de produzir, vender, crescer, gerar riqueza, renda, emprego, etc. Mas para isso escolhemos escravizá-la. Pagamos um alto preço; em cem mil anos de humanidade, nunca se explorou tanto os recursos naturais como se tem feito nos últimos duzentos anos. Onde está a parada final desta engripada máquina?
A cidade em que vivemos representa apenas um ponto matemático dentro de um sistema autodestrutivo. Uma nova revolução, capaz de transformar as estruturas e conduzir a humanidade rumo à outra via nem chega a constituir-se utopia, pois não conseguimos vislumbrar outras possibilidades. Nossa limitação nos condena a um futuro incerto. É prudente cultivar a esperança e refletir nas palavras de Krishnamurti. Dentro de nossas possibilidades, instituir pequenas transformações que possam em conjunto, significar a mudança nos costumes e hábitos, voltados à manutenção da vida.
No Brasil, possuímos uma legislação ambiental avançada, que precisa ser cumprida em sua íntegra. Fala-se muito em desenvolvimento auto-sustentável, a cada dia novas técnicas e práticas conservacionistas surgem com o intuito de se reduzir os impactos causados pelas ações antrópicas*. Estamos mais do que na hora de arregaçar as mangas e aplicar tantos conhecimentos acumulados. O crescimento urbano descontrolado, a destruição e poluição dos mananciais, o lixo, a monocultura, a mineração, o desmatamento são realidades cada vez mais presentes em Paracatu, no nosso pequeno universo de relações. Devemos lutar para fazer a diferença!

* Toda modificação do ambiente causada pela ação do homem.

P.S. : No dia 5 de junho comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. É neste período que se configura a Semana do Meio Ambiente.

Em busca da umidade perdida


Sol ou chuva? Nunca estamos satisfeitos com o tempo. Bom seria se houvesse um dispositivo, de preferência móvel, para podermos manipular a atmosfera bem ao estilo “o todo poderoso”.
Se chove muito começamos a ver bolor em todo o canto. Mas, semanas sem ela nos faz sentir como lagartos no deserto, ressequidos. De fato, nosso clima tropical continental nos reserva para esses meses de inverno pouca ou quase nenhuma gota de chuva. É neste período também que a umidade relativa do ar atinge níveis extremamente baixos. A mãozinha do homem ajuda a piorar a situação, basta lembrar-se da emissão de poluentes pelos carros e fábricas, derrubada de árvores e queimadas, que deterioram a qualidade do ar.
A baixa umidade causa alterações em nosso organismo. Olhos, narinas e pele ressecam mais rapidamente. Desconfortos como náuseas e dores de cabeça também são freqüentes, além de maior incidência de doenças respiratórias e problemas cardiovasculares. É importante se manter hidratado ingerindo muito líquido (de preferência água) e evitar atividades físicas ao ar livre nos horários da tarde, para minimizar esses efeitos.
As tão faladas alterações climáticas, decorrentes do desequilíbrio no aquecimento natural do planeta, poderão prolongar os períodos de estiagem, ou torná-los mais intensos. É preciso que passemos, dentro de nossa possibilidade, a implantar pequenas mudanças em nosso modo de vida para atenuar seus efeitos.
Aqui em Paracatu uma importante medida seria deixar de colocar fogo nos terrenos baldios. A queimada, além de empobrecer o solo, polui o ar, emite fuligem que suja a cidade e ajuda a deteriorar a umidade. Ela prejudica a nossa saúde e ainda pode causar incêndios. Entretanto, apresentamos grande resistência em abandonar velhos hábitos prejudiciais.
Aumentar a área verde com o plantio de gramas e árvores reduz a insolação, gera-se sombra, aumenta a umidade do ar e, de quebra, melhora a drenagem e absorção pelo solo da água das chuvas, minimizando até as enchentes. Pode ser feito nos quintais, nas calçadas e onde mais couber. Também é vital se criar novos espaços como praças e parques para melhorar o micro-clima urbano, consecutivamente, a qualidade de vida dos citadinos.
“Pensar globalmente e agir localmente” é o lema do século XXI. Nas próximas décadas iremos conviver com situações adversas em decorrência de um clima menos previsível. Árvores levam tempo para crescer e tempo é algo que não temos em abundância.
As minhas árvores estão sendo plantadas, cadê a sua?

sábado, 14 de agosto de 2010

A grande jogada de 2014


A Copa na África terminou. Como primeiro país do continente a sediar um mundial a África do Sul surpreendeu com seus estádios monumentais e a boa receptividade dos anfitriões. Os bilhões de dólares investidos para melhor receber os turistas, de quebra estão a beneficiar a população do país que obteve a melhoria de alguns de seus equipamentos públicos. E para 2014 no Brasil, o que podemos esperar?
Não são apenas estádios gigantescos de arquitetura pós-moderna que fazem um evento deste porte. Há que se pensar em um conjunto de melhorias que foram empenhadas em nossa candidatura para sediar o mundial. Afinal de contas, a copa não é apenas para os brasileiros. Receberemos turistas de todo o mundo e nos tornaremos uma verdadeira vitrine, numa rara oportunidade de consolidar o país como um importante destino turístico.
Talvez aí encontra-se o maior legado de uma copa. Para se ter uma idéia, segundo a Organização Mundial de Turismo, o Brasil ocupa a 36° posição no ranking de destinos turísticos, recebendo pouco mais de 5 milhões de visitantes. Só os Estados Unidos tem receitas equivalentes a mais de 110 bilhões de dólares, tendo um fluxo de turistas dez vezes maior que o verificado em território nacional.
Sim, possuímos belezas naturais únicas, e um povo rico em manifestações culturais. Entre os viajantes estrangeiros a hospitalidade brasileira é uma qualidade intrínseca e inerente ao seu povo. O desejo de estabelecer intimidade seria, na visão de Sérgio Buarque de Holanda, uma das formas como se expressariam a chamada - cordialidade brasileira. Entretanto, somos amadores em se tratando de indústria do turismo.
A preocupação do governo em ampliar a infra-estrutura nos transportes não é vã. Tantos os aeroportos quanto a sistema de transporte urbano nas grandes cidades são ineficientes. O quadro estabelecido hoje é resultado de políticas que beneficiaram muito as distribuidoras de combustíveis e montadoras de carros, em detrimento a investimentos nos transportes públicos e de massa. Assistimos ao desmonte de nossa antiga rede ferroviária e ao descaso das autoridades para com nossas estradas, sobrecarregadas de caminhões, focos de acidentes.
Temos ainda problemas como a falta de segurança pública. Fomos tomados por uma onda de violência, em que assaltos nas ruas tornaram-se freqüentes, banalizando a vida humana por um simples relógio ou par de calçado. Soma-se o tráfico de entorpecentes que domina territórios onde o Estado não chega, imperando uma terceira ordem.
Há falta de moradia digna, sem infra-estrutura de água tratada, esgoto e asfalto para grande parte da população, que é vítima também da especulação imobiliária. Esses problemas são imensos desafios para os governos e que não são solucionáveis em apenas quatro anos.
Mas é preciso fazer algo. Muito mais que transformações físicas, sediar um mundial desperta um sentimento singular: de querer mostrar o melhor. E é pensando nesse melhor, que devemos vislumbrar mudanças não apenas nas cidades sedes dos jogos. Teremos uma rara oportunidade de alavancar o turismo nacional. E Paracatu pode se beneficiar disso.
Estamos a apenas 200 quilômetros de Brasília, uma das capitais dos jogos. Os turistas virão apreciar o futebol, mas também conhecer a região. E certamente, o noroeste mineiro guarda belas paisagens, molduradas pelas chapadas e serras de flora e fauna singulares. Inúmeras cachoeiras, uma excelente culinária, além de rico patrimônio arquitetônico e cultural. Isso nos faz pensar no quanto precisamos trabalhar para receber esses turistas. Daí começamos a pensar que cidade queremos mostrar?
Se a copa fosse hoje, o turista que aqui viesse se depararia uma cidade envolta a fumaça e fuligem das queimadas nos terrenos baldios. Ruas empoeiradas pela falta de passeios, que também são um transtorno para os pedestres. Pontes estreitas e trânsito similar ao de cidade grande. Sem dizer que as belezas naturais, ao redor, não encontram logística e infra-estrutura favoráveis.
Há muito a ser feito. Mas não faltam bons exemplos de cidades pequenas que se consolidaram como centros turísticos. No Estado de Goiás, por exemplo, tem-se Pirinópolis e Alto Paraíso, que em comum compartilham as belezas do cerrado, recebem pessoas do Brasil e do exterior.
O governo federal, por meio da EMBRATUR, está desenvolvendo várias ações de qualificação, promoção, planejamento e gestão voltadas para a copa e também para as olimpíadas de 2016. A chance está a nossa frente, não podemos deixar passar. Arregaçar as mangas e mãos a obra é nosso lema, afinal, 2014 está chegando.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ser um pouco criança


As férias chegaram. Maravilha! Aquela praia que ficou em meu pensamento nos últimos meses ia se materializar. Pensava: “estamos no inverno, mas e daí? Mineiro não liga para detalhes de frio; e depois, é época de seca. É quase certeza de sol todo dia...”
Seria “se” um fenômeno atípico não trouxesse uma massa de ar polar, que além de frio causou chuva que não acabava mais no litoral sul e sudeste. Os dias ensolarados na praia se traduziram em horas e horas no apartamento aguardando o sol raiar – ele não veio.
Recorrendo a um dos programas típicos para dias chuvosos liguei a velha e tediosa TV. Realmente a programação de férias é para quem não tem opção, só a chuva para fazer ver aquilo. Mas o pior estava por vir: em todos os canais, durante quase todo o tempo só se ouvia noticias de um futuro ex-goleiro, seus comparsas e um crime típico de filme de terror. Aquilo foi demais. O pior que para onde se apertava no controle remoto, só se via aquilo. Recusei-me a ser mais um no Ibope dessa notícia.
Foi então que propus um desafio: pensar somente em coisas boas (é claro, com a TV desligada), e comecei a brincadeira. Quantas passagens nem lembrava mais... Das travessuras de menino aos anos de escola. Com certeza, a simplicidade é amiga da felicidade.
Lembrei-me de um tempo em que as crianças podiam ficar nas ruas sem preocupar-se com grandes perigos. A vizinhança toda se interagia e os meninos corriam para brincar de pique, se esconder atrás do poste e ainda achar que eram invisíveis. Subia nas árvores, pegava frutas no quintal do outro e dava risada quando a dona Maria apontava com a vassoura.
Naquela mesma época brincava de bete, queimada e rolimã. Fazíamos nossos tacos de cabos de vassouras; a queimada era na rua mesmo, e o rolimã uma aventura: descer a ladeira, manter o equilíbrio e evitar esfolar-se.
Adorava assistir desenho animado, passear de bicicleta na praça, juntar garrafas e metal para vendê-los no ferro velho. De posse de uns trocados corria na venda para comprar bala chita, caramelo ou chiclete. Essas “bobeiras”, como diria minha mãe, não eram tão fartas como hoje. Acho que fazíamos de seu consumo uma solenidade: maçã era raridade, iogurte um luxo de uma vez ao mês. Gelatina, cachorro quente e refrigerante destinados para ocasiões como almoço de domingo ou festa de aniversário.
Reconheço que fui uma criança feliz e que mesmo sem possuir vídeo game, bicicleta da moda ou chuteira, contei com o amor e a presença da minha família e isso é tudo. Hoje, por diversas vezes me esqueço das origens e me pego encabulado por não possuir isso ou aquilo, sendo que o mais importante não está no ter.
Apesar de não curtir o sol na praia, pois ele não veio, visitar a família, sair com os amigos e viajar fizeram dessas férias especiais. Estar rodeado das pessoas que se ama e compartilhar gargalhadas, prosas e causos; levar um fora da gata da festa, mas roubar um beijo e ser correspondido de outra; trocar olhares; abraçar aquele que não se via há muito tempo; sonhar... Desligar a TV me fez ligar outra percepção. Precisamos de muito pouco para estar em paz e sorrir.