Em um dia desses comecei a pensar nas pessoas que passam pela nossa vida. A impermanência das relações, a variedade de sentimentos que são despertados, cultivados ou esquecidos a partir da convivência ou ausência do outro.
Vieram a mente lembranças que me trouxeram saudade e outras pesar, por deixar de ter feito coisas que hoje não são mais possíveis realizar. Lembrei-me de uma tia que morava na fazenda e era o carinho e atenção materializados em pessoa. Nos recebia em sua casa com grande alegria e entusiasmo. Fazia de tudo para nos deixar confortáveis e entretidos. À noite, preparava um lanche com biscoitos e pães de queijo, que esquentávamos no rabo do fogão à lenha contando prosas e causos seguidos de longas risadas. Quando ela adoeceu e foi para o hospital, aguardei seu retorno, não fui vê-la internada. Mas esse encontro não ocorreu e hoje sinto muito por passar esse momento distante. Busco, a partir de então, sempre que posso me fazer presente ante as pessoas importantes do meu meio, principalmente quando elas mais precisam.
Outro fato que se sucedeu foi com meu pai. Um homem extraordinário, íntegro, que me ensinou a moral, a cultivar a mística e a ser gentil, mas que tinha um problema: oscilava entre a razão e a insanidade. Foi uma experiência marcante os 12 anos em que estivemos juntos, enquanto uma família completa. Transcendendo os problemas cotidianos fomos muito felizes. Não tive tempo de dizer quanto o amava... Ele tinha sonhos simples que não se realizaram nessa vida. Hoje, faço o máximo de esforço em ir atrás do que quero, por mais difícil que seja, pois considero frustrante não se fazer o que se sonha.
Outras pessoas marcantes são os amigos. Há momentos na vida que eles fazem parte da nossa rotina a ponto de pensarmos que nunca vamos nos separar. Mas um dia o afastamento acontece e os caminhos tomam rumos diferentes. Guardo aqui dentro um lugar especial para quando estiverem próximos. Os compromissos e as próprias escolhas nos deixam por vezes distantes daqueles que gostamos, mas o que é verdadeiro não se perde... Aprendi que como em um jardim, precisamos despender atenção, que seja em um simples gesto como enviar um cartão de natal, ou um postal ao amigo que está longe - e aos que estão próximos também.
Agora, de todos aqueles que encontramos pela vida, certamente os que deixam as mais intensas marcas são os que nos despertam a paixão. Sorrateira e inesperada nos arrebate de repente. Faz as cores realçar, os sons se intensificarem. Deixam-nos em torpor. Nesse estado vivemos o tudo em poucos instantes. Há paixões que duram uma vida, transformam-se em amor, edificam famílias. Outras são transitórias, fugazes, sofridas. Um tipo em especial mais me marca: aquela paixão que dura pouco, mas que de tão intensa vale por uma vida inteira. Ela tem início, meio e fim definidos; fica arquivada na memória; arranca um sorriso. É acompanhada de um suspiro quando lembrada, pois deixa saudade. Esse encontro provavelmente não voltará a acontecer. Talvez nem precise... Aprendi com isso o quanto vale a magia de se viver o instante, como “se não houvesse o amanhã”. Sem cobranças, nem expectativas.
Quando pensei nessas coisas, soube então que cada pessoa que encontramos em nossa vida nos ensina e nos desperta para um mundo repleto de possibilidades e de novas experiências. Elas vão fazer parte de nossa lembrança, se ajuntar aos nossos sonhos e nos fazer sentir humanos. Podemos nos tornar melhores a partir disso ao buscar fazer o outro feliz. Afinal, que sentido teria esse fantástico e grandioso encontro que é a vida?