terça-feira, 27 de novembro de 2012

Tempos do medo





Há algum tempo cenas de violência urbana tomaram conta dos meios de comunicação. A guerra entre policiais e traficantes no Rio de Janeiro, os ataques à PM em São Paulo, roubos a caixas eletrônicos, latrocínio, homicídios... A população, maior vítima, sofre acuada e indefesa.

Ao assistir a documentários históricos ou coberturas de guerras, imaginava como seria viver em meio a tal situação. Bombardeios, destruição, a morte iminente a qualquer esquina e em qualquer lugar. Como frequentar a escola, ir ao mercado, viver a rotina? Em tempos de guerra o que as pessoas fazem?

E nesses dias em que o medo impera, percebi que aqui, no Brasil, vivemos uma guerra silenciosa. Não conhecemos a tranquilidade e a paz. Temos medo de andar nas ruas, de sermos assaltados, de termos nossas casas invadidas por furto, roubo ou sequestro. Tememos balas perdidas, a morte por algo insignificante, como um par de tênis ou uma bicicleta.

Nos anos de 1990 a guerra entre bósnios, sérvios e croatas, na antiga Iugoslávia, foi mostrada ao mundo por repórteres internacionais que divulgaram cenas que horrorizaram, comoveram e trouxeram muito pesar - chocou a todos. O filme “Bem vindo a Sarajevo”, de Michael Winterbottom (1997), apresentou os horrores desse conflito, que a princípio, parece estar distante de nossa realidade. Entretanto, quando lemos ou vimos o noticiário, os fatos mostrados no filme parecem nos tocar e se confundem com nosso cotidiano.

Em uma guerra declarada as pessoas saem às ruas, compram seus víveres, tocam seus negócios e assumem riscos. No Brasil, assumimos o ímpeto diário de viver em um lugar que fez da violência algo banal. Aqui se morre por nada e nada acontece com o criminoso, que se nutre e prolifera sobre a impunidade. É preciso alertar a todos: “isso não é normal”.

Nossa responsabilidade sobre tal situação é perceptível em pequenas atitudes como, por exemplo, comprar um inofensivo “baseado”. O tráfico de drogas, um dos responsáveis por esse quadro, só se fortalece porque há um mercado que o mantém ativo. E não se engane imaginando que o “moleque” da periferia é seu maior sócio. Quando um jovem da classe média compra seu “beck”, ou pedra de craque, ele alimenta o que podemos chamar de máquina da morte. Infelizmente, as pessoas que consomem drogas ilícitas e pensam que não fazem mal a ninguém, estão enganadas. São engrenagens essenciais para fazer mover a indústria do crime.

Estou muito triste. O país que sonho para meus filhos não se mostra próximo. Queria poder sair às ruas a qualquer tempo sem me preocupar com a violência seja ela por meio de assalto, sequestro ou motoristas imprudentes e alcoolizados. Essas coisas ocorrem também em outras partes do mundo, mas sei que há lugares onde impera o respeito e a paz. O que ocorre aqui é uma anomalia. Temo perder a esperança de um futuro melhor. Hoje percebo como é viver em meio à guerra.


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