quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Lei das Cotas ou jeitinho brasileiro?

O governo sancionou no último dia 29 de agosto a Lei das Cotas Sociais, que destina 50% das vagas das universidades e dos institutos federais a estudantes egressos de escolas públicas. Tal medida visa a garantir a uma parcela da população acesso gratuito ao ensino superior e tecnológico.



Como muita coisa em nosso país, essa lei trata de um remendo mal-ajambrado e pernicioso que não trará benefícios à sociedade como um todo. O problema que afasta o estudante de baixa renda das cadeiras da universidade pública não é sua condição social, mas sim a baixa qualidade do ensino público que ele recebeu até então. Ora, a solução mais assertiva não seria investir nesses níveis a fim de melhorar a qualidade, para que os alunos tenham competências de concorrerem a vagas não somente nas universidades, como também nos concursos?



A Lei de Cotas é típica do que há de pior no Brasil: descompromisso. Ela permite que o governo protele medidas de melhoria da qualidade da educação e mantenha o baixo investimento nos ensinos fundamental e médio, que por sua vez, forma estudantes cada vez mais despreparados. Os motivos que comprometem a qualidade do ensino são múltiplos e vão desde a ausência da participação da família na educação dos filhos aos baixos salários pagos aos professores.



Em tempos de campanha eleitoral, é palavra corrente dos políticos a valorização do professor. Mas falam isso da boca para fora, pois a real valorização só ocorre com a melhoria salarial, da qual não estão dispostos a solucionar. Esta, além de permitir que o docente encare menores jornadas, pois hoje para se manter precisa trabalhar em múltiplas escolas, atrairia os melhores profissionais para essa carreira, o que de fato refletiria significativamente na qualidade.



Outro ponto a ser considerado nos faz refletir como se dará o desenvolvimento acadêmico de um estudante ingressante na universidade por esse processo e que não possui méritos para concorrer com outro melhor preparado. Se a universidade mantiver a qualidade, certamente os índices de reprovação e evasão aumentarão, o que acabará por elevar os custos dos cursos, e quem sempre paga... Caso contrário, a baixa qualidade será estendida também a esse nível de ensino e observaremos uma multidão de formandos desempregados, sem competência para o trabalho. Tal cenário é o mais provável, visto que o governo vem implementando políticas que condicionam investimentos as instituições federais de ensino ao número de alunos formados, ou seja, maior número de alunos representa mais verbas.



Cabe a nós, sociedade, escolher entre o “jeitinho brasileiro” e a medida correta a ser tomada. Os bons modelos de ensino mundo afora não empregam cotas. Sem esforço e superação, uma sociedade que ignora o mérito e a qualidade está fadada ao fracasso.



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